
Chegamos a mais um janeiro. O primeiro mês do ano, em que culturalmente e por hábito, ficamos mais pensativos sobre nossas vidas, sobre o ano que passou e sobre as metas e planos para o ano que acabou de chegar. E romper mais um Ano Novo na pandemia nos convida à reflexão.
Os impactos da pandemia para a saúde mental são inegáveis. Quando Aristóteles (384 – 322 a.C.) diz que “o homem é um ser político por natureza”, ele traduz que precisamos pertencer a uma coletividade, conviver e partilhar a vida na polis. O pensamento do filósofo grego traduz uma necessidade que se transpõe ao tempo e marca significantemente a vida ocidental contemporânea. A partilha social é essencial para espécie humana, e a felicidade está intimamente ligada à convivência com outros pares.
O que, na época da Grécia Antiga, era filosofia empírica, hoje pode ser percebida e traduzida com minúcias e detalhes na nossa realidade pandêmica. Nos momentos mais duros do isolamento, quanta falta sentimos dos abraços apertados, das risadas mais animadas e dos festeiros encontros de família regados a muita comida gostosa e cheias de saudosas lembranças?
A habilidade sensorial humana, além de contribuir para o aprendizado primário e desenvolvimento do intelecto, tem papel fundamental na integração entre os sujeitos, com a criação de vínculos e afetos que proporciona a formação de memórias.
Além de ser fundamental para o desenvolvimento humano per si, a integração entre os sentidos tem papel central nas relações humanas e na saúde mental do indivíduo. Para todo esse, tato, visão, audição, olfato e paladar são peças-chave. Esses sentidos potencializam as relações humanas. E é exatamente pelos sentidos que humanos somos.
O olfato está também ligado as nossas memórias e sentimentos. A alteração olfatória afeta diretamente o paladar e a integração com os demais sentidos interferindo nas relações e experiências humanas. Pessoas com alteração no olfato e no paladar tornam-se mais suscetíveis à depressão, por estarem privadas de conexões cotidianas tão importantes que costumamos subestimar.
Dra. Lorena Pinheiro
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CREMEB: 22.902 | RQE: 11787