Ototoxicidade (ototoxicose) pode ser definida como a perda da função auditiva e/ou vestibular decorrente de lesões da orelha interna, originada por substâncias químicas (medicamentos ou outros produtos industrializados). A perda pode ser parcial ou total, simétrica ou não (ou seja, afetar os dois ouvidos de forma igual), temporária ou permanente, dependendo da composição química da substância, da dose, do tempo de exposição e da via de administração, além da característica genética individual.
Nas lesões que afetam o centro da audição no ouvido, a cóclea, um dos primeiros sintomas a serem notados pelo paciente é o zumbido, muitas vezes antes mesmo de notar algum grau de dificuldade de ouvir. O zumbido tem características variáveis nos pacientes afetados, podendo ser notado como um apito, chiado, ser pulsátil ou contínuo. Por característica, o zumbido tem modulação no nosso córtex frontal e a nossa percepção dele afeta o grau de incômodo que o zumbido provoca no paciente. Em geral, o início do sintoma traz mais incômodo para o indivíduo, já que é uma sensação “nova”, ficando melhor tolerado ao longo do tempo – apesar disso, nem sempre a tolerância é atingida, e o paciente pode apresentar grande prejuízo à qualidade de vida e ao desenvolvimento das atividades do dia-a-dia.
Com o avançar da exposição ao agente ototóxico, o zumbido pode piorar e se associar à perda auditiva, o que compromete ainda mais as atividades diárias. Algumas substâncias também podem afetar o vestíbulo, órgão localizado dentro da orelha interna que é responsável pelo nosso equilíbrio – quando isso acontece, a sintomatologia se relaciona à perda de equilíbrio e tontura, que pode ter diversos graus de severidade e prejuízo ao indivíduo. A tontura pode ser referida como sensação de flutuação, percepção de movimento rotatório do ambiente e oscilação da marcha, com tendência a queda. Nos pacientes mais idosos, isso pode se tornar fator de risco para quedas e fraturas, e o acompanhamento deve ser de perto.
Alguns exemplos de medicações ototóxicas incluem antibióticos (neomicina, estreptomicina), diuréticos (furosemida), salicilatos (AAS) e alguns quimioterápicos (cisplatina e carboplatina).
Em alguns casos, podemos trocar as medicações em uso para reduzir esse efeito tóxico ao sistema auditivo e vestibular, ou então, quando isso não é possível (casos de quimioterapia por exemplo), propor redução de dose e maior espaçamento nas aplicações – sempre com avaliação multidisciplinar com o médico assistente que prescreveu o tratamento em questão.
Dessa forma, ao notar zumbido ou qualquer alteração auditiva ou do equilíbrio no curso de tratamento com medicações citadas acima, procure um otorrinolaringologista para avaliação, investigação e orientação, assim como para reabilitação em casos de danos permanentes a esses sistemas.
Dr. Diego Guzman
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CRM-BA: 27211 | RQE: 17686