Define-se estomatite como qualquer processo inflamatório que acometa a cavidade oral. As lesões inflamatórias podem ter diversas etiologias: infecciosas, auto-imunes, traumáticas, neoplásicas ou reações medicamentosas. É importante salientarmos, que a distribuição das doenças que afetam a boca, depende da faixa etária, etnia, condição socioeconômica, status imunológico e hábitos nocivos (como o tabagismo e etilismo) da população avaliada.
Podem representar lesões isoladas restritas a cavidade oral; ser manifestação local de um distúrbio sistêmico, ou a partir do comprometimento local, levar a um acometimento geral do indivíduo. Todas estas manifestações fazem parte do roll de conhecimento do otorrinolaringologista, cirurgiões de cabeça e pescoço, e de cirurgiões dentistas especialistas na área da estomatologia (do grego stoma = boca).
Para fins didáticos, classificamos as lesões orais de acordo com seu aspecto macroscópico em lesões brancas, vesico-bolhosas, aftóides e ulcerativas, além de outras lesões sólidas ou císticas que podem também acometer qualquer localização na cavidade oral.
Felizmente, a maior parte destas lesões são benignas. Entretanto, lesões de difícil cicatrização (maior que 10 dias), lesões brancas, lesões de colorações mais escuras (avermelhadas, amarronzadas ou enegrecidas), ou lesões de crescimento progressivo, devem ser prontamente avaliadas por um especialista.
A afta é uma das lesões mais comuns, causada por mordidas acidentais durante a mastigação, deficiência nutricional, refluxo, ou como parte de manifestação de uma outra doença. Quase sempre desaparecem depois de 7 a 10 dias, e as erupções recorrentes são as mais comuns. Para um alívio temporário, pode-se aplicar pomadas analgésicas ou fazer uso de enxaguatórios antissépticos. As lesões múltiplas, maiores que 1 cm, recidivantes, e que não melhoram em 10 dias devem ser melhor investigadas.
Nas crianças, algumas lesões comuns são a gengivoestomatite herpética primária e a candidíase. A primeira corresponde ao primeiro contato da criança com o vírus do herpes simples, enquanto que a segunda, mais conhecida como sapinho, é comum nos primeiros 18 meses de vida devido a imaturidade do sistema imunológico frente ao contato com fungos. Lembramos que várias doenças da infância, manifestam-se primariamente pelas estomatites, e estas incluem algumas doenças virais como a escarlatina, herpangina, roséola infantil e o sarampo. Dessa forma, a presença de lesões bucais na infância, principalmente, quando associadas a outros sinais e sintomas como tosse, congestão nasal, febre, dor de garganta e falta de apetite, devem ser prontamente avaliadas por um pediatra ou otorrinolaringologista.
As complicações bucais podem ocorrer também na terceira idade. Na população idosa, de menor poder aquisitivo, são comuns as lesões reativas por próteses mal-adaptadas, como o fibroma traumático, a hiperplasia fibrosa e papilar inflamatória. Além disso, a exposição prolongada ao sol pode causar queilite actínica, uma lesão com potencial de transformação maligna que acontece no lábio inferior.
Recentemente, no nosso canal, alertamos para o Julho Verde: mês de prevenção ao câncer de cabeça e pescoço. Por isso, não podíamos deixar de comentar sobre o câncer de boca, seu diagnóstico precoce e prevenção. Estima-se que os tumores malignos primários de boca correspondam a 3% do total mundial de casos de neoplasias malignas. A literatura relata a predileção por idosos do sexo masculino, porém o número de casos de câncer de boca em adultos jovens está aumentando.
O câncer de boca provoca a morte prematura de pessoas relativamente jovens, má qualidade de vida e angústia nos pacientes, nos familiares e nos amigos. Portanto, não se justifica que uma doença altamente incapacitante, de alta letalidade e que vem atingindo um número cada vez maior de pessoas não seja prevenida ou detectada precocemente. Vale lembrar que os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de boca são o etilismo e tabagismo.
Por isso, não se esqueça: feridas em boca que não cicatrizam em 10 dias, devem ser logo avaliadas por um especialista!!!
Roberto Tunes
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CREMEB: 21611 | RQE: 15247