Disfagia é a presença de algum fator que impeça ou atrapalhe a deglutição, uma função vital para o ser humano e deve ocorrer de forma segura e confortável para o paciente.
Parece um processo simples para as pessoas saudáveis, mas é extremamente complexo, requerendo uma sincronização precisa com a respiração, uma vez que compartilham de estrutura que serve às duas funções: a faringe.
O ato de deglutir envolve mais de 20 músculos de boca, faringe, laringe e esôfago, que são controlados por áreas corticais e pelo centro da deglutição, no bulbo (tronco cerebral).
A deglutição é dividida em 3 fases: oral, faríngea e esofágica. Cada fase deve ser avaliada também isoladamente, com parâmetros específicos. Alguns autores consideram ainda a fase preparatória ou fase pré-oral.
A 1ª fase ou fase oral é em sua maior parte voluntária, envolvendo a mastigação e a projeção do bolo alimentar para a faringe pela língua. A salivação, que também começa a ocorrer antes da chegada do alimento, vai umidificar e lubrificar a boca para facilitar a formação e descida do alimento para a faringe.
A 2ª fase ou faríngea é a fase mais curta, entretanto a mais importante, onde ocorre a elevação da laringe, reversão da epiglote, adução ou fechamento glótico e relaxamento do esfincter esofagiano superior para entrada do alimento no esôfago, entrando na 3ª fase da deglutição, totalmente involuntária.
Doenças neurológicas, inflamatórias e neoplásicas são as principais causas de disfagia. O fator emocional também deve ser considerado associado a qualquer patologia ou isoladamente no diagnóstico de exclusão.
Os sintomas mais frequentes de um paciente disfágico são engasgos frequentes ao se alimentar, que pode ocorrer com um tipo específico de alimento ou com várias consistências. Podem ser relatados “entalos”, sensação de alimento parado na garganta, sufocamento e tosse durante ou após a alimentação, além de perda de peso sem explicação, uma vez que a quantidade ingerida frequentemente diminui. A disfagia pode também levar à desidratação, desnutrição e o mais grave: pneumonias de repetição.
A infecção respiratória no paciente com distúrbio de deglutição ocorre devido à penetração do alimento na laringe, seguida de aspiração traqueal e brônquica, levando a quadros repetidos de pneumonia, piora do estado geral, internações e até prolongamento no tempo hospitalar, caso não se restabeleça logo uma forma segura de alimentação, principalmente em idosos e pacientes com doenças neurológicas, como acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo cranioencefálico (TCE) ou doença de Parkinson.
O diagnóstico da disfagia é baseado na história clínica e em exame de imagem dinâmica, como na videoendoscopia da deglutição ou no videodeglutograma (videofluororscopia).
O exame considerado “padrão ouro” é o videodeglutograma, pois pode avaliar todas as fases da deglutição, embora ele tenha limitações, como deslocamento do paciente e exposição à radiação.
Outra alternativa muito útil e com uma série de vantagens, como realização do exame em consultório, à beira do leito ou em domicílio é a Videoendoscopia da deglutição. Como não tem exposição à radiação, pode ser realizada quantas vezes forem necessárias. Além disso este último permite uma visão direta da faringe no momento da deglutição, embora avalie indiretamente as fases oral e esofágica.
O tratamento da disfagia se baseia na sua etiologia e, sempre quando necessário e possível, na avaliação e terapia fonoaudiológica, na tentativa de preservar e melhorar a via oral ,de forma segura e eficiente, sem risco de broncoaspiração. A fonoterapia tem papel fundamental na reabilitação do paciente disfágico, não apenas para manter a via oral exclusiva, como também permitir que o paciente continue satisfazendo seu paladar mesmo de forma total ou parcial , quando precisa utilizar vias alternativas para se alimentar como uma sonda nasoenteral ou sonda gástrica (gastrostomia), melhorando a qualidade de vida.
Numa população onde o número de idosos apenas aumenta, e por essa ser a faixa etária mais acometida, embora possa ocorrer em qualquer idade, precisamos nos preocupar sempre em acrescentar mais vida aos anos e não apenas mais anos à vida.