O transtorno do Espectro Autista (TEA) corresponde a um grupo complexo e heterogêneo de alterações do neurodesenvolvimento, ou seja, um grupo de condições ou patologias que se iniciam no período do desenvolvimento da criança, e que geralmente têm início antes dos 2 anos de idade.
Sua etiologia ainda é bastante discutida, porém sabe-se que o componente genético é um dos principais, sendo por isso encontrados casos em irmãos e outros componentes da família. É mais comum também em meninos. Tem associação com síndromes genéticas, dentre elas podemos citar a do X- frágil, síndrome de Rett, síndrome de Down. Outras causas não genéticas seriam infecções no período pré natal, uso de etanol e tabagismo na gestação, e uso de algumas medicações. A idade paterna acima de 40 anos também está implicada com o aumento de risco para TEA. Pode-se considerar sua etiologia multifatorial, geralmente combinando fatores genéticos e ambientais e epigenéticos.
Os indivíduos que fazem parte do espectro do autismo têm déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Por exemplo, as crianças do espectro têm dificuldade em interagir com outros colegas, costumam ficar isolados e têm dificuldade de olhar nos olhos do outro.
Além das dificuldades na comunicação social, eles costumam apresentar padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Por exemplo ter interesse restrito em apenas um brinquedo (ex. Carros) e brincar de forma não imaginativa e sim ritualística (ficar rodando a rodinha dos carros virados para cima, bater objetos entre si, agrupar brinquedos por cor e formas ou enfileirar…)
Muitos sinais já podem ser identificados desde os primeiros meses de vida, embora passe despercebido pela maioria dos pais. Por exemplo, a atenção compartilhada, que se caracteriza por compartilhar atenção do outro apontando objetos, e a coordenar olhares entre objetos e pessoas, pode mostrar seus primeiros sinais de comprometimento quando o bebê não sorri ou retribui o olhar em resposta a vocalização dos pais. Ou então quando as crianças apontam algo que desejam, sem vocalizar e sem buscar o olhar do interlocutor, atitudes estas que se espera observar em crianças ao redor dos 12 meses. Alguns costumam inclusive segurar a mão do familiar e levá-lo até o objeto de interesse, mas não gesticulam ou falam para demonstrar sua vontade . Outro sinal que chama atenção no TEA são bebês que parecem demonstrar pouco interesse pela face humana e não apresentam o famoso sorriso social nos primeiros anos de vida.
Muitas vezes uma das primeiras características que chamam a atenção dos pais é o fato de chamarem a criança e ela parecer não escutar o chamado. O esperado é que a criança já atenda ao chamado do seu nome com 8-10 meses. Ou também sensibilidade a alguns barulhos por exemplo aspirador de pó. Fatos esses que fazem muitos pais procurarem um otorrino suspeitando de alguma perda auditiva.
Outra causa frequente de procura por um otorrino é o atraso de fala e linguagem principalmente em quadros mais graves nos quais até a comunicação por gestos pode estar comprometida.
Nesses casos porém é importante não rotular precocemente a criança como autista antes de passar por uma avaliação com especialista. Muitas crianças podem ter comportamentos “autísticos” sem serem autistas, podendo configurar outros distúrbios do neurodesenvolvimento ou alterações psicológicas ou ainda estarem vivenciando algo temporário dentro do seu desenvolvimento normal.
O TEA pode coexistir com outras comorbidades psiquiátricas e neurológicas como Deficiência intelectual, Epilepsia, TDAH, Transtornos de Ansiedade, Transtorno Obsessivo- Compulsivo, Transtorno de Humor, Transtornos psicóticos. O diagnóstico nem sempre é imediato. É indispensável para acompanhamento e tratamento uma equipe multidisciplinar que que pode envolver Neurologista Infantil, Otorrino especialista em Foniatria, Fonoaudiólogo, Psiquiatra, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, Geneticista, Professores e cuidadores da criança.
O mais importante nesses casos é não perder tempo. Se existe alguma suspeita de que a criança não está apresentando um desenvolvimento dentro do esperado para a sua idade, ou os pais suspeitam de algo diferente, deve-se procurar logo ajuda especializada visando acompanhamento, diagnóstico, aconselhamento familiar e intervenções comportamentais precoces, diminuindo danos e agindo ainda nos primeiros anos de vida, período de maior plasticidade cerebral e mais propício ao sucesso terapêutico.
Dra Adriana Burgos
Otorrinolaringologista- Fellow em Foniatria – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CRM-BA: 21114| RQE: 13055