A otite média aguda é uma infecção extremamente comum em crianças: dois em cada três bebês terão um episódio de otite no primeiro ano de vida.
As crianças menores apresentam algumas características especiais, a começar pela tuba auditiva (o canal que une o ouvido com a parte posterior do nariz) que é bem mais curta, flácida e horizontal do que no adulto. Por ter este formato, ela acaba facilitando a entrada de germes que vêm pelo nariz e vão até o ouvido. Como as crianças que convivem com outras crianças em creches e escolas têm cerca de 10 a 12 infecções virais por ano, a secreção, inicialmente em sua maioria ainda com componentes virais, vai em direção ao ouvido médio com muito mais facilidade do que nos adultos e crianças maiores. Outro fator importante é o sistema imunológico das crianças pequenas, ainda imaturo e ineficiente para uma proteção mais adequada.
O fato é que, três episódios em seis meses ou quatro em doze meses já configuram uma criança com otite de repetição e precisam de investigação e tratamento especializados. A conduta vai variar de acordo com cada caso, pois dependerá, por exemplo, da resposta aos tratamentos clínicos, das alterações anatômicas (hipertrofia de adenoide, por exemplo), ou da condição alérgica e imunológica do paciente.
O tabagismo passivo, um período mais curto de aleitamento materno, uma história genética de otites na mesma família e a amamentação na posição deitada são alguns dos fatores predisponentes. O aleitamento materno é comprovadamente um fator protetor, e essa proteção é tanto maior quanto maior o tempo de aleitamento. Outro ponto importante é a presença de adenoide na rinofaringe, que pode tampar a tuba auditiva e funcionar como um reservatório de bactérias, um biofilme que ajuda a manter a alta frequência das infecções.
Um dos maiores problemas é que as otites recorrentes em crianças acabam levando a períodos de flutuação da audição, o que é motivo de grande preocupação para os especialistas, uma vez que estas crianças podem ficar mais desatentas, perder a motivação para aprender na escola, podendo estar relacionada também ao atraso na aquisição da linguagem e prejuízos na fase do letramento, além de dificultar a interação socioemocional.
Por conta disso, é muito importante manter o acompanhamento destas crianças também nos períodos em que não estão clinicamente doentes, pois é frequente permanecer, de forma “silenciosa”, catarro na orelha média, mesmo sem sinais clínicos de otite, condição conhecida como otite média com efusão. O médico otorrinolaringologista será o profissional mais indicado para acompanhar estes casos, decidindo pelo tratamento medicamentoso de cada crise ou pelo tratamento cirúrgico, nunca dispensando um seguimento cuidadoso.
Cristiane Teixeira
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
Membro da Associação Interamericana de Otorrinopediatria – IAPO
CREMEB: 18333 / RQE: 7098