RESPIRAÇÃO ORAL
A respiração oral, ou bucal, decorre de uma série de fatores que levam a uma obstrução nasal completa ou incompleta, podendo ser uni ou bilateral. É uma queixa freqüente nos consultórios de otorrinolaringologia, de pediatria e até mesmo nos de clínica médica, sendo encontrada uma prevalência de 56,8%de respiradores bucais na população pediátrica em alguns estudos.
É dado o nome de Síndrome do Respirador Oral ao conjunto de sinais e sintomas associados à respiração oral e que tem inúmeras causas, tanto intrínsecas quanto extrínsecas ao nariz. Tal síndrome incide principalmente na faixa etária pediátrica, e é justamente nessa faixa que as repercussões do tratamento inadequado são mais importantes e evidentes.
– Principais sinais e sintomas
O quadro clínico pode variar muito podendo o paciente apresentar desde uma apnéia do sono até uma obstrução nasal leve.
Os principais sinais e sintomas do respirador oral, são:
Obstrução nasal • Dor de garganta • Ardência ou prurido na faringe • Muco espesso aderido à garganta • Tosse seca persistente • Cefaléia matinal • Infecções de vias aéreas superiores recorrentes • Halitose • Enurese noturna • Sonolência / Irritabilidade • Dificuldade alimentar • Mau aproveitamento escolar • Rosto de respirador oral crônico • Aumento de cáries dentárias • Deformidades dento-faciais
Durante a consulta, é importante sabermos quais os hábitos das crianças, como uso de chupetas e mamadeiras ou hábito de chupar o dedo – hábitos que podem desencadear o aparecimento da respiração oral. Vale lembrar, ainda, que as queixas decorrentes da respiração oral podem permanecer mesmo após a retirada do(s) hábito(s) envolvido(s) na sua origem.
O respirador oral normalmente tem preferência por alimentos macios e moles, e bebe muito líquido junto com os alimentos, devido à dificuldade de mastigar. Sua mastigação costuma ser bem alterada, ruidosa e desordenada, com os lábios entreabertos; por não conseguir respirar pelo nariz, o respirador oral é obrigado a manter os lábios abertos durante a mastigação para poder respirar. Nesta competição, a respiração, indiscutivelmente, vence: daí a preferência por alimentos que facilitem a mastigação e líquidos que ajudem na deglutição desses.
– Repercussões em outros órgãos e sistemas
- Sistema Respiratório
- A tosse crônica ocorre porque através da respiração oral não há adequado aquecimento e umidificação do ar inspirado.
- Sono
- Distúrbios do sono levando a hipersonolência durante o dia comprometendo a aprendizagem e levando a agitação e irritabilidade
- Sistema Endócrino
- Muitos hormônios são dependentes do ciclo circadiano, assim os distúrbios respiratórios causados pela obstrução nasal levam a produção inadequada desses hormônios. Um exemplo é a alteração da liberação do hormônio GnRH levando ao retardo de crescimento pôndero-estatural e a diminuição da secreção do hormônio anti-diurético podendo acarretar enurese noturna.
- Postura
- Projeção da cabeça para frente e hiperlordose cervical
– Repercussões Locais
- Desenvolvimento dento-crânio-facial
- • arco dentário superior atrésico • mordida cruzada posterior e aberta anterior • padrão de crescimento verticalizado • palato primário ogival • boca entreaberta • língua baixa e para frente
- Orofaríngeas
- Ressecamento da saliva causado pela respiração oral favorece o crescimento da placa bacteriana
- Otológicas
- A obstrução nasal causada pela Hipertrofia das Adenóides pode obstruir as tubas auditivas e levar a uma doença chama Otite Média Serosa que é o acúmulo de líquido dentro da ouvido levando a uma perda auditiva
- Sinusite Crônica
- Causada pelo acúmulo de secreção “parada” dentro do nariz e pela infceção do tecido da adenoide
– Tratamento
O tratamento é individualizado para cada paciente pois, como falamos anteriormente, são múltiplas causas e o mesmo paciente pode ter mais uma, como uma criança portadora de Rinite Alérgica e Hipertrofia de Adenóides. Mas, basicamente, podemos indicar lavagens nasais com solução fisiológica, uso de sprays nasais, anti-histamínicos e anti-leucotrienos orais, antibióticos e,em alguns casos, cirurgia.
O mais importante é que a causa seja identificada e o tratamento seja iniciado o mais precoce possível para evitar as repercussões descritas.
Fernanda Bittencourt
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CREMEB: 22.779 | RQE: 13972