São comuns os problemas auditivos em pessoas com Síndrome de Down. De acordo com as Diretrizes de Atenção às Pessoas com Síndrome de Down do Ministério da Saúde, cerca de 75% das pessoas com a trissomia sofrem perda auditiva ao longo da vida.
Os canais auditivos estreitos da pessoa com Síndrome de Down merecem uma atenção especial e consequentemente mais visitas ao otorrino. A Otite externa crônica, Disfunção tubária e tendência a otite média serosa são patologias comuns nesses casos.
Otite externa crônica:
Inflamação associada a mudanças irreversíveis na pele do meato acústico externo, onde há um aumento da espessura epidérmica e favorece a descamação de células superficiais e estagnação de debris epiteliais, gerando sintomas como prurido, perda de cerume e descamação da orelha.
Geralmente a cultura é negativa, mas pode haver infecção secundária.
Para o tratamento é necessário cuidados locais que visam restaurar a pele e estimular a produção de cerume, é preciso identificar e afastar fatores desencadeantes e principalmente não manipular o ouvidos com objetos para evitar ferimentos na pele e lesões no tímpano.
As complicações diante dessa patologia são: infecção bacteriana secundária, estenose de conduto e hipoacusia.
Disfunção tubária e tendência a otite média serosa:
A tuba auditiva (TA) é um ducto ósteo cartilaginoso que comunica o ouvido médio à rinofaringe. Suas principais funções são: proteção contra secreções nasais, drenagem de secreção da orelha média e ventilação.
Fisiologicamente, a tuba ideal tem abertura ativa e intermitente devido apenas à contração muscular durante a deglutição e bocejo.
A obstrução ou patência anormal dessa estrutura, propicia pressão negativa dentro da cavidade timpânica, facilita a entrada de secreção na orelha média a partir das fossas nasais e dificulta a saída da secreção. Como consequência, desencadeia otite média serosa/mucóide crônica, responsável por perda auditiva condutiva. Ela ocorre mais frequentemente em crianças menores que 5 anos e após infeção de vias áreas superiores, mas também pode ocorrer em adultos ou pacientes com alterações anatômicas craniofaciais, tumores, rinite alérgica, polipose nasal, alterações ciliares, fatores externos ou imunológicos.
É necessário avaliação de cada caso para tratar adequadamente e evitar complicações.
Além das patologias citadas acima as pessoas com a trissomia podem desenvolver surdez do nervo auditivo, quando envelhecem. Ocasionalmente também pode ocorrer em bebês e crianças pequenas, porém, torna-se mais comum entre a adolescência e a vida adulta.
É fundamental que as pessoas com Síndrome de Down tenham a audição verificada ao longo do tempo, porque a deficiência auditiva pode afetar o seu dia a dia e desenvolvimento.
Dra Raíssa Borges
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CRM-BA: 28762 | RQE 19840